História da Comunicação no Brasil

História e desenvolvimento dos meios de comunicação no Brasil

COPAS X TECNOLOGIA : Copa de 1970 junho 8, 2010

Nesta época, todo mundo está e clima de Copa do Mundo. E este Blog não poderia ficar de fora. Daí a ideia desta coluna. A ideia desta coluna não é contar a História das Copas, mas sim revelar como a tecnologia existente na época, influenciou na transmissão de determinada Copa. Por isso, o parâmetro aqui não é cronológico mas sim tecnológico. No primeiro post contamos sobre a transmissão ao vivo pelo rádio da Copa de 1938. Antes disso, só se sabia dos resultados através dos jornais impressos e mais tarde no cinejornal. A partir daí, os brasileiros acostumam-se a acompanhar as aventuras do plantel brasileiro Via Ondas do rádio. Mesmo como advento da Tv nos anos 50, as coisas por aqui continuaram imutáveis, no máximo se via notícias da Seleção na parte destinada a esportes nos noticiários como o Repórter Esso. Na época, acompanhar o Campeonato paulista ou carioca era muito mais fácil pois, alguns dos principais jogos destes campeonatos passavam ao vivo, ao contrário dos do selecionado brasileiro. Com a chegada do videotape em terras tupiniquins, a coisa melhorou. Ao menos se podia acompanhar os melhores momentos algumas horas depois. No entanto, a emoção de acompanhar os jogos ao vivo, sofrer à cada minuto, ver cada lance,discutir os desmandos do juiz com ganho de causa, no Brasil, só se daria na Copa de 1970. É exatamente sobre a Cobertura midiática da conquista da Copa de 70, que vamos falar. Cuja final, Brasil 4 x 1 Itália, completará 40 anos neste 21 de junho.           

VAMOS AOS ANTECEDENTES DA COPA

Desculpe aí, mas temos que contar um pouco de História, para entrar no clima. A Seleção havia se classificado sob a tutela de João Saldanha um ano antes. Tal comando não era do agrado do Presidente militar Emílio Garrastazu Médici, que comandava o país deste o adoecimento de Arthur da Costa e Silva, o presidente que instituiu o AI-5, que promoveu uma verdadeira “caça às bruxas” a todos que opunham ao Governo Militar. E ao contrário do que se poderia pensar, pouca gente mesmo, se opunha. Mesmo os jornalistas apoiavam de certa forma, o Regime, apenas os intelectualizados, membros da esquerda e artistas faziam alguma oposição. João Saldanha, chamado “João sem medo”, que tinha ligações com o Partido Comunista, e era jornalista e advogado, no entanto, enfrentou o tal general :”Quem escala a seleção sou eu,  quando o presidente escalou o seu ministério ele não pediu a minha opinião”. Quando o general,entusiasta do futebol, “pediu” que ele escalasse Dario Maravilha, jogador do Atlético Mineiro , já que Saldanha havia escalado Tostão do Cruzeiro. Depois de tentar outro técnico, chamaram o ex-lateral bi-campeão Zagallo para dirigir as “Feras do Saldanha”. Saldanha, então, Seleção retornou ao jornalismo, sendo um dos comentaristas da Tv Globo nesta Copa. Algumas dessas questões são levantadas por C.F. Vilarinho em seu livro “Quem derrubou João Saldanha”.

O incrível é que apesar de ter se sagrado Bi-campeão do mundo há duas Copas antes, o que mais estava pesando era o fiasco da Copa anterior (1966), conforme descreveu o Blog da Vnews . Lá descreve que o jornal   “Última Hora”, um dos jornais da época comentou : “Apesar de um elenco de estrelas, o conjunto brasileiro ainda não apareceu”. Em março de 70 

Outros diários até elogiavam a Seleção, mas o clima de desconfiança era geral. O mesmo “Ultima Hora”, um dos primeiros jornais a se posicionarem contra o golpe, decreveu a constante vigilância dos militares de uma forma que pode até soar polida nos dias de hoje, mas naqueles anos de Chumbo deve ter soado irônica para os “engajados” : Generais observam seleção de perto e cobram resultado no México”.

Este blog também analisa outros aspectos referentes áquele mundial, que no momento, não serão abordados – inclusive, porque nosso estudo sobre a Propaganda na Era da Ditadura, não é só referente à Copa de 70, mas como um todo mas são interessantes para uma análise do leitor. Mas vamos deixar isto para depois.

Campanha Brasileira

Ao contrário do que previa o Última hora e torcia a esquerda, a Seleção teve 100% de aproveitamento, retornando ao jogo solto e ofensivo venceu tudo, confirmando o jeito brasileiro de jogar. Como a proposta deste trabalho não é falar sobre a Copa em si, mas sim da tecnologia na  transmissão dos jogos e da cobertura em si, vou deixar um link para que vocês pesquisem sobre a Campanha do Brasil (Globo Esporte) que inclusive, fornece alguns pormenores sobre o formato da competição naquele momento. Fotos, curiosidades e entrevistas.Este outro traça uma análise sobre o Esquema tático adotado por Zagallo, polêmicas a parte tem ou não a ver com o de Saldanha ?

Vou fornecer apenas os resultados, para atiçar o apetite :

 Brasil  4×1 Tchecoslováquia,  Brasil 3 X 2 Romênia. O terceiro jogo, considerado um dos mais importantes da Copa, por confrontar os vencedores das últimas três Copas, 58,  62 e 66 : Brasil e Inglaterra. Brasil 1 X0 Inglaterra. Nas Quartas :  Brasil 4×2 Perú Na semi-final, 20 anos depois do Maracanazzo, o Brasil encontraria seus velhos adversários da azul celeste : Brasil 3 X 1 Uruguai. Para a Final estava reservado outro clássico : Brasil e Itália, dois Bi- campeões mundiais lutando pela posse definitiva da Jules Rimet já que o regulamento previa que quem vencesse três vezes o torneio teria posse definitiva da Taça. O Brasil levou a melhor : fez o primeiro gol, terminou o Primeiro tempo empatado e goleou a rival por 4 x 1.

Escalação básica da Seleção, completa (com reservas) no site da oragoo :

 1 – Félix –Goleiro ( Fluminense)  2 – Brito Zagueiro ( Flamengo) 3 – Piazza Zagueiro (Cruzeiro) 4 – Carlos Alberto Torres Lateral-direito  (Santos ) 5 – Clodoaldo Meia  (Santos) 6 – Marco Antonio Lateral-esquerdo  (Fluminense) 7 – Jairzinho Atacante (Botafogo) 8 – Gerson
Meia (São Paulo) 9 – Tostão Atacante (Cruzeiro) 10 – Pelé Atacante (Santos) 11 – Rivellino Meia (Corinthians)

Tecnologia

Mas vamos à tecnologia, que é o nosso assunto : assim como havia acontecido com a Europa nas duas Copas anteriores, pela primeira vez, os brasileiros poderiam ver tudinho ao vivo, e a cores, via Embratel. Espera aí, infelizmente, em cores não deu. Apenas pequeno grupo seleto assistiu ao vivo e em cores, provavelmente a grande burguesia, os militares, que tinham aparelhos adaptados, puderam assistir em cores. Conforme descrito no site Memórias da Globo  até 1966 “a transmissão dos jogos era acompanhada acompanhada de narração de narração nos moldes radiofônicos” ou seja, colocava-se uma imagem da Seleção e um locutor narrava a partida. Já conforme depoimentos colhidos junto a pessoas que presenciaram a época, em 1966 já  passavam Vts com os melhores momentos das partidas. No ano de 1970, a Tv já estava em mais de 40% dos lares, o resto via na casa de um parente (televizinho), em bares, em lojas de eletrodomésticos ou ainda acompanhava pelo rádio. O governo, então, criou financiamentos para a compra de aparelhos de Tv, e claro, o povo impulsionado pelo dito “milagre econômico”, aproveitou.

A TV Bandeirantes e a Globo já se destacavam, cobrindo o torneio, cuja audiência se tornaria a maior da televisão brasileira, até aquele momento. A Globo, por exemplo, levou à Copa uma equipe formada pelo jornalista esportivo Armando Nogueira, o locutor Geraldo José de Almeida, o cinegrafista Gabriel Kondorf  e o jornalista e ex-técnico da Seleção, João Saldanha. Para cobrir a Copa do mundo de 2010, a Globo enviou cerca de 200 profissionais. No entanto, para a época foi a primeira cobertura internacional de grande porte. No mundo, foi a primeira televisionada para todo o globo. Cerca de 50 países (na Copa de 2010 serão  214) acompanharam o evento esportivo. O lado ruim é que quem continuava tendo privilégios era a Europa, e alguns jogos tiveram que ser realizadas sob o forte sol do verão mexicano ao meio-dia, de modo a não atrapalhar a programação das principais TVs européias. Diferente de hoje em dia, que o fuso horário do país sede é respeitado. Tal tabela desagradou muitos jogadores e técnicos. Além disso, a Copa de 70 foi a primeira a ser transmitida pela TV via satélite, marcando, assim, a comercialização maciça do torneio. A partir daí, o futebol televisivo que já havia se tornado coqueluche, graças ao Bi-campeonato Mundial. Cuja transmissão ainda eram feitas nos moldes tradicionais, ganhou as dimensões que se tem hoje.